Há muitas
histórias bizarras que colhemos em São Domingos sobre a passagem da Coluna
Prestes.
O município
tem um território privilegiado de pedreiras e grutas com abertura de suspiros,
onde os esconderijos pareciam mais seguros em relação aos revoltosos, porém
mais perigosos em relação às onças que também buscavam refugiar-se nas mesmas
locas.
Aí se
duplicava o medo: das onças e dos revoltosos. Mesmo depois da volta ao redil,
muitas pessoas ficavam possuídas de uma espécie de neurose de guerra.
Apesar do
pavor que os revoltosos infundiam na população, em São Domingos fez-se exceção
à regra.
Ouvi algumas pessoas que a eles se referiam
com simpatia. Talvez tivessem intenções maldosas, mas conhecendo a timidez do
povo (ou talvez sugestionados pela beleza paisagística do lugar), passaram, em
vez de saquear, a defender a cidade.
Alguns deles resolveram abandonar o grupo
(talvez nem pertencessem à Coluna Prestes) e fixaram residência em São
Domingos, aí se casando e formando família.
É o caso de um desses revoltosos que tinha
sido escalado para servir de sentinela (vigia) da família Honorato (quem conta
é o doutor João Honorato Pinheiro, médico filho da terra): “Foi um revoltoso
quem pedira a minha mãe, dona Mundinha, para que batizasse minha irmã com o
nome de Irene, explicando que a menina era bonitinha e que o nome seria uma
homenagem à sua noiva, chamada Irene, que tinha deixado no Nordeste.”
Povo tão
bom, tão hospitaleiro, tão fraternal, os dominicanos aplacavam até mesmo a
rudeza dos cangaceiros, humanizando-os e ensinando-lhes o amor e a convivência
social: pobres homens recuperados que passaram a fazer parte da história da
cidade.
(Por Emílio
Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana
de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de
Imprensa)
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