Conhecido
como "homem buraco", Antônio Francisco Calado, 57, vive há 25 anos
dentro de um buraco na cidade de Nova Roma, a 583 km de Goiânia, na região
Nordestes do Estado.
A história
despertou o interesse do juiz Everton Pereira Santos, que decidiu fazer uma
inspeção judicial no local, para constatar sua incapacidade e condições de
vida.
De acordo
com a irmã de Antônio, ele sai do buraco todos os dias bem cedo e só retorna no
fim da tarde.
Quando foi localizado, ele estava com panos
que usa como roupa e carregando objetos como facão, faca, punhal, isqueiro e um
artefato para acender fogo. O "homem buraco" recebeu o magistrado
enquanto fazia comida.
"Não
vou oferecer, vocês não vão querer porque eu não lavo a panela tem uns 10
anos", revelou. O alimento foi dividido com uma raposa que ele pegou no
mato e que lhe faz companhia. “Tem também esse aí, o Barão”, disse, apontando
para o cachorro. Os animais são os únicos companheiros dele.
Durante a
conversa, foi questionado sobre a mãe, que morreu em 2012, ele respondeu: “Ela
não foi embora, de vez em quando falo com ela, todos dias”, disse, confuso. “O
trovão e o raio também dizem o que eu devo fazer”, acrescentou.
Antônio ainda
disse que não sente medo do buraco desabar porque tem plástico e madeira que
protegem o local.
Dentro da
"casa", um oratório com pequenas imagens que ele afirmou serem seus
irmãos, um lugar para guardar ferramentas, uma espécie de antesala com rede e uma
base de madeira com panos velhos por cima, que lhe servia de cama. No alto da
caverna, há um furo por onde ele consegue ver as estrelas quando está deitado.
No fim, o
morador agradeceu a visita, disse que não sabia o que estava acontecendo e que
era feliz.
Ao ser questionado se precisaria de algo, foi
enfático. “Sou feliz aqui. Não preciso de nada. Sou feliz com os animais. Eu
durmo com eles, me falam as coisas que eu preciso fazer”, completou.
A população
de Nova Roma não entendem o porquê de ele ter essa vida, dúvida não foi
respondida por ele, nem pela irmã, única pessoa que cuida dele.
Antônio
aparenta ser um homem calmo e tranquilo. Segundo a irmã, Raimunda Teresa
Calado, ele não toma banho, não faz a barba e muito menos corta as unhas. “Já
tentamos dar banho nele, mas ele não quer. Diz que os animais não tomam banho e
ele também não”, contou.
Ela disse
ainda que a água que ele toma é de um rio que passa no fundo da fazenda. “Ele
não aceita nada que a gente dá para ele. E também não come carne, só salame”.
Saúde
O laudo
médico anexado aos autos atestou que Antônio tem esquizofrenia paranoide, uma
perturbação mental grave caracterizada pela perda de contato com a realidade
(psicose), alucinações e delírios (crenças falsas).
No caso de
Antônio, percebe-se que existe uma lógica perfeita dentro do delírio, só que
ela não corresponde à realidade.
“Periciado
tem déficit cognitivo e desorientação mental com alienação mental sendo incapaz
para a vida independente e para o labor”, constatou a avaliação do médico
perito.
O laudo pericial foi realizado uma semana
antes da data da audiência e na porta do fórum. “Tive que buscá-lo e prometer
que o levaria de volta. Ele não saia de lá há mais de ano”, frisou Raimunda,
irmã dele. “A vida dele é isso aqui. Ele não aceita nada e diz que não precisa
de nada. Sabemos que é doente e que precisa se tratar”, destacou a irmã.
Justiça
No dia
seguinte da visita, o juiz Everton Pereira, além de instruir e julgar a ação de
interdição de Antônio, sentenciou os processos de pensão por morte dos pais
dele, por ele ter sido considerado incapaz.
“O autor se
isolou no meio da mata, abdicando de cuidados higiênicos, morando num buraco
por ele construído, criando animais e com alimentação precária. A inspeção
judicial reforçou a incapacidade já atestada no laudo médico pericial”,
destacou o juiz.
Com isso,
Antônio receberá a pensão do pai e da mãe. No entendimento do juiz, “é possível
a cumulação de pensões por morte em decorrência do falecimento de ambos os
genitores do filho menor ou maior e inválido”.
Fonte: TJGO
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