Alvorada do Norte/GO: Testemunhas da Operação Sexto Mandamento dizem ter sofrido ameaças de policiais
Três
testemunhas do inquérito que investiga assassinatos praticados por um suposto
grupo de extermínio em Alvorada do Norte, em Goiás, dizem ter sido ameaçadas
pelos sargentos José Wilson de Freitas e Jerônimo Francisco da Costa, ambos
presos na segunda fase da Operação Sexto Mandamento, no dia 11 do mês passado.
Eles são
suspeitos de participar dos assassinatos e da ocultação dos cadáveres de Pedro
Nunes da Silva Neto e Cleiton Rodrigues, em fevereiro de 2010, a mando de
fazendeiros, segundo investigação da Polícia Federal (PF).
O comandante
do Policiamento na Capital, tenente-coronel Ricardo Rocha Batista, também é
suspeito de ter envolvimento com os crimes. Os jovens desaparecidos eram
suspeitos de praticar roubos em propriedades rurais.
As decisões
judiciais que negaram o pedido de revogação da prisão temporária dos sargentos,
no último dia 9, contêm trechos de dois depoimentos que relatam as ameaças. Uma
outra testemunha depôs na Comissão de Direitos Humanos do Senado no dia 12 de
dezembro, onde disse continuar a ser ameaçada mesmo após a deflagração da
Operação.
Familiar de
Higino Pereira de Jesus, que desapareceu dois dias antes de Pedro e Cleiton,
Fernando (nome fictício) disse em depoimento que o sargento Jerônimo o alertou,
um mês antes da morte do parente, que Higino deveria sair da cidade, pois seria
executado.
A conversa
teria ocorrido em um bar, Fernando e Jerônimo seriam parentes distantes. Na
ocasião, o militar teria dito que Ricardo Rocha iria até a cidade acompanhado
de outros policiais para matar Higino e outros, “que iriam fazer um ‘limpa’”,
afirma o texto do depoimento.
Já em outro
trecho de depoimento, do ano passado, a testemunha Manuel (nome fictício)
relata que um carro policial passava diariamente em frente à casa onde morava,
em Alvorada do Norte, e que ficava sendo encarado pelos policiais militares
ocupantes do veículo. Ele reconheceu, por meio de fotografia, que um dos policiais
na viatura era José Wilson de Freitas.
Manuel
também conta que, na mesma época, foi abordado por um policial na rua, que
teria lhe dito de forma agressiva que “Boca fechada não entra mosquito” e “Você
arrumou um problema comigo”. No depoimento, a testemunha afirma que a namorada
foi ameaçada da mesma maneira.
Ameaça recente
Em
depoimento na Comissão de Direitos Humanos do Senado, o morador de Alvorada do
Norte Deusdete Rodrigues Neves, de 49 anos, contou que está sendo vítima de
ameaças desde que depôs no inquérito que originou a Operação. Ele relata que
chegou a ser ameaçado por um dos sargentos presos.
“Passei mais
de meia hora com uma pistola na minha cabeça, na minha testa, pelo PM Jerônimo.
Mesmo depois da prisão deles eu continuo sendo ameaçado por policiais
militares”, disse diante da Comissão. Ele foi incluído no programa de proteção
a vítimas e testemunhas.
Na mesma
sessão da Comissão de Direitos Humanos, o delegado da Polícia Federal (PF),
Francisco Badenes, disse que o depoimento da testemunha vem sendo comprovado
pelas investigações da PF. “O que a gente tem percebido é que a situação é
muito mais grave do que versa o primeiro objeto de apuração desse inquérito”,
declarou.
A reportagem
do jornal O POPULAR entrou em contato com Badenes, que preferiu não conceder
entrevista porque o caso é considerado sigiloso.
A advogada
dos sargentos presos, Ágna Rômulo Sousa, nega que eles estejam relacionados com
qualquer episódio de ameaça a testemunhas. “Eles nem sabem quem são essas
pessoas, segundo relato dos dois. São denúncias infundadas”, defende.
Para Ágna, o
inquérito possui diversas falhas e os depoimentos das testemunhas são volúveis.
“As pessoas (testemunhas) não sabem ao certo quem é quem. Ora fala uma coisa,
ora fala outra”, argumenta a advogada.
Advogado diz que não há provas
O nome do
comandante do policiamento na capital, tenente-coronel Ricardo Rocha, aparece
duas vezes no texto das decisões judiciais que negam pedido de revogação das
prisões temporárias dos sargentos da PM presos na segunda fase da Operação.
Rocha é citado por uma testemunha, que relata um diálogo com o sargento
Jerônimo Francisco da Costa. Este teria alertado ao depoente sobre a vinda de
Rocha com outros policiais para matar Higino Pereira de Jesus, morto dois dias
antes do desaparecimento de Pedro Nunes da Silva Neto e Cleiton Rodrigues.
O nome de
Rocha é associado a ligações telefônicas, que teriam ocorrido entre o
tenente-coronel e outros suspeitos nos dias dos homicídios de Higino, Pedro e
Cleiton. O advogado de Rocha, Tadeu Bastos, diz que a polícia não apresentou
provas das acusações contra o tenente-coronel. Sobre as ameaças, diz ser
difícil afirmar algum julgamento, porque só se tem a versão das testemunhas e a
negação dos acusados.
Fazendeiro tinha amizade com PM
O fazendeiro
Ari Ornelas, suspeito de ser mandante dos assassinatos investigados pela
segunda fase da Operação Sexto Mandamento, sempre foi próximo do comando da
Polícia Militar (PM) de Formosa, chegando a ajudar financeiramente a corporação
com gasolina para as viaturas e na reforma do batalhão. É o que conta o filho e
advogado de Ari, o ex-deputado Ivan Ornelas (PMDB).
“Nós
apoiamos o enfrentamento contra esses ladrões, que vivem invadindo propriedades
rurais, estuprando e matando”, defende Ivan. Ele conta que a região teve um
surto de roubos a propriedades há cerca de oito anos, mas que os crimes
diminuíram. “A maioria (dos criminosos) desapareceu”, revela.
O
desaparecimento de Pedro Nunes da Silva Neto e Cleiton Rodrigues, suspeitos de
praticarem roubos a propriedades rurais, é o caso que deu origem à segunda fase
da Operação. Ivan defende que não existem provas contra seu pai, nem contra o
tenente-coronel Ricardo Rocha, também indiciado. “Essa investigação não tem
fundamento nenhum”, diz. “Os cadáveres, se realmente foram assassinados,
desapareceram. Eles têm de apresentar os cadáveres.”
Também
questiona a acusação de Ari ter financiado a campanha de Rocha para deputado
estadual. Ele diz que o dinheiro, cheques e notas promissórias apreendidos na
casa do fazendeiro não têm relação com nenhum crime. “Meu pai faz operações
legalizadas com o Banco Central. O que tem a ver com investigação de supostos
homicídios?”.
Em
entrevista à TV Serra Dourada, em 12 de novembro, quando negou envolvimento com
os crimes, Ricardo Rocha definiu Ari como um “amigo da PM”. “(Ari) foi amigo de
todos os comandantes que passaram por Formosa. Um senhor honrado. Sempre
tivemos amizade.”
Fonte: O Popular
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