Chapada dos Veadeiros: “Meu irmão foi desapropriado e morreu sem receber”, diz proprietária de Fazenda
A
administradora de empresas e psicóloga Maysa Reis, de 58 anos, proprietária da
Fazenda Canastra, com quase 500 alqueires na região do Pouso Alto, é atualmente
uma das principais críticas da ampliação do Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros (PNCV).
A senhora é contra a ampliação do
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros?
Não é ser
contra, é ser coerente. Eu não seria contra se fosse uma medida justa. Eu só
quero receber o justo, o valor de mercado, ou senão que entregue para outras
forças. Quem é que não quer ter o melhor ar, a melhor água? O governo federal
não tem dinheiro para essas desapropriações. Tem um pessoal que foi
desapropriado há 30 anos e apenas 2% das propriedades foram pagas. Meu irmão
foi desapropriado e morreu sem receber. Isso eu acho uma aberração. Ainda nem
indenizou o primeiro. Agora, porque artistas e Prem Baba (guia espiritual da
região) estão pedindo, querem ampliar? Como eu vou ser a favor de uma história
que vai se repetir? Eu sou contra o furto, o roubo, o não pagamento.
O que a senhora tem feito para
discutir a questão?
Eu entrei
nessa história porque eu não acreditava naquelas audiências públicas. Eu estive
com o Vilmar Rocha (secretário estadual das Cidades e Meio Ambiente) e ele foi
imediatamente no MMA (Ministério do Meio Ambiente) pedir mais 60 dias de
prorrogação. Essa é uma fazenda que foi presente do meu pai e está completamente
dentro da área de ampliação.
A senhora quer construir um
condomínio de alto nível no local?
É a maior
verdade que existe. Eu sou loteadora. O Setor Maysa, aqui em Goiânia, leva o
meu nome porque era uma fazenda do pai. Ele foi um visionário. Guardei aquela
área na Chapada por muitos anos para fazer o melhor loteamento ecológico da
história. Eu tenho esse projeto para segunda moradia ou até em cotas, para
pessoas que querem preservação, de alto nível e altíssima consciência
ambiental. Ele (o empreendimento) seria evento mundial.
Esse empreendimento não vai impactar
o meio ambiente?
De forma
alguma. Se alguém apontasse algum impacto, eu até mudaria o projeto. Ali é a
minha paixão, a minha natureza, a minha história de vida. Quando meu pai foi me
dar uma fazenda, ele não queria me dar aquela porque não tinha terra boa. Eu
disse: “pai, tem fazenda que é para gado. Eu quero uma fazenda que seja para
gente”. Tempos depois, ele me deu razão. Minha fazenda tem várias cachoeiras,
piscinas naturais e a nascente do Córrego Canastra. Lá passa o Rio das Almas,
os córregos Jacuba e o Jacubinha. Eu vou fazer, e com certeza vou fazer, o
maior loteamento dos sonhos dos que amam e preservam a natureza.
Número divergentes
Entre os
pontos polêmicos do processo de ampliação do Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros (PNCV), no Nordeste de Goiás, está o número de propriedades afetadas.
Enquanto a
proposta apresentada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) fala em 90 famílias, a Federação da Agricultura e
Pecuária de Goiás (Faeg) contabiliza 514 imóveis rurais.
“Não há 500
famílias dentro da área de ampliação. Os assentamentos e grandes áreas
produtivas foram retirados do projeto durante as audiências públicas, para
evitar atritos”, diz o chefe do PNCV, Fernando Tatagiba.
O
vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e
presidente do Sindicato Rural de Alto Paraíso, Leonardo Ribeiro, alega que o número
de proprietários a serem indenizados supera 500. “Esses estudos foram feitos de
forma irresponsável”, critica.
Nem mesmo o
Estado sabe ao certo quantos imóveis há no local. “Estamos contratando uma
empresa para georrefenciar essas propriedades”, disse o representante da
Secima, Rogério Rocha.
Fonte: O
Popular
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