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Chapada dos Veadeiros inova no plantio de sementes do Cerrado




Doze toneladas de sementes de espécies nativas do Cerrado foram plantados em uma área de 58 hectares no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no nordeste de Goiás.

A ação faz parte de um projeto inovador que tem como objetivo de desenvolver técnicas de restauração mais baratas para regenerar áreas do bioma convertidas em plantações e dominadas por gramíneas africanas.

O projeto teve início quando a equipe do parque percebeu que os incêndios florestais na unidade ganhavam grandes proporções ao atingir áreas dominadas por capim exótico.

Claudomiro Almeida Cortes, filho de agricultor e garimpeiro, entrou para a brigada anti-incêndio do parque em 2007 e conta como tudo começou: “A gente vinha trabalhando nos combates dentro do parque e foi percebendo que era mais fácil combater os incêndios em áreas com gramíneas nativas. Quando o fogo chegava na gramínea exótica, perdia o controle, era como uma bomba”.

Em 2009, o analista ambiental do parque José Fernando dos Santos Rebello juntou-se a Claudomiro e Valdeci Carvalho, outro brigadista, para iniciar o plantio de espécies arbóreas em linhas através da semeadura direta, com três quilos e meio de sementes distribuídos em uma área de poucas dezenas de metros quadrados.

Em 2012, a ação tornou-se um projeto de pesquisa financiada pelo ICMBio. Desde então, teve apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em 2012 e 2013 e da Rede de Sementes do Cerrado em 2014. Já em 2015 e 2016, foi financiado pela Norte Brasil como reposição florestal de uma linha de transmissão de energia.

Métodos inovadores

As técnicas empregadas são inovadoras e estão em desenvolvimento contínuo. Alexandre Sampaio, pesquisador do Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Caatinga (Cecat), do ICMBio e coordenador do projeto, enfatiza que esta ação foi uma das pioneiras em considerar o estrato rasteiro do Cerrado.

“Após quatro anos de experiência, sabemos que se as gramíneas exóticas forem eliminadas adequadamente por meio do uso do fogo e revolvimento do solo com trator, e espécies determinadas forem semeadas na quantidade suficiente, é possível estabelecer uma comunidade de plantas nativas”, afirmou ele.

Para monitorar os resultados, várias pesquisas estão sendo realizadas na área de restauração. Há dissertações de mestrado e uma tese de doutorado em andamento, feitas por alunos da Universidade Nacional de Brasília. Entretanto, segundo Alexandre Sampaio, ainda há inúmeras oportunidades de pesquisas com foco na fauna, solo, ecossistemas e reprodução de plantas nativas.

O projeto também utiliza uma técnica menos explorada nos projetos de restauração em geral, que é a semeadura direta. Sampaio ressalta que a produção de mudas de espécies do Cerrado é dificultada pelo fato de as plantas típicas apresentarem crescimento expressivo das raízes que não comportam nos sacos ou tubetes.

Essas plantas, segundo Sampaio, desenvolvem muito as raízes pois isso é fundamental para torná-las capazes de sobreviver às oscilações de umidade do Cerrado. Também há o fato de que o uso de mudas para restauração no Cerrado traria uma diversidade muito menor, pois a oferta de espécies produzidas em viveiros é pequena, devido ao alto custo de produzi-las.

Em função disso, são utilizadas nesse projeto sementes minimamente beneficiadas para comporem a muvuca (mistura de sementes) lançada nas áreas. Este ano o plantio contou com uma variedade de 66 espécies, incluindo capins nativos.

Benefícios sociais

As toneladas de sementes utilizadas no plantio foram compradas de 66 famílias da região e envolveu o trabalho de muitas pessoas. “Temos coletores em vários lugares, tem famílias da comunidade Kalunga, dos assentamentos, em Colinas do Sul, em Sertão, em Alto Paraíso de Goiás e em São Jorge”, disse Claudomiro.

De acordo com ele, os coletores são treinados para garantir a integridade da planta, coletando somente um percentual adequado de sementes. “Com a parceria que fazemos com os coletores, estamos preservando a natureza. Eles se preocupam em manter as plantas nativas para poder vender as sementes. Tinha um agricultor, que possuía na propriedade dele alguns pés de barbatimão. As vacas dele comiam as sementes e o queijo não ficava bom. Ele tinha resolvido cortar os pés, mas como compramos as sementes, ele não cortou. Eu vi, pela minha própria experiência, que se começar a trabalhar com meio ambiente, a gente muda mesmo”, afirmou Claudomiro.

Inspiração para outros projetos

Além de gerar renda para muitas famílias, o projeto já apresenta alguns resultados práticos. “Quando a gente chega à parcela de 2012, já vê a diferença. Antes, só se via capim exótico e era uma solidão, não tinha nenhum animal. Hoje, a gente entra debaixo das árvores e vê muito capim nativo, e, com as espécies que dão fruto, tem bastante animal aparecendo por lá”, constata o brigadista.

Para Alexandre Sampaio, do Cecat, essa experiência mostra que é possível restaurar o Cerrado “Ficar parado diante de um grande problema só faz com que ele aumente, qualquer esforço por menor que seja é sempre válido”, reforça ele, com o apoio de Claudomiro: “O ponto fundamental para começar a plantar é a força de vontade”.

Restam ainda centenas de hectares de áreas para restaurar dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Para garantir sua continuidade, o projeto necessita de maquinário para o preparo do solo e plantio de sementes, além de apoio financeiro para custear o trabalho dos coletores treinados. Qualquer interessado em apoiar o projeto pode entrar em contato com a equipe do parque pelos telefones.

Comunicação ICMBio – (61) 2028-9280 – com informações do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (Laís Aquemi Ohara, voluntária da unidade)

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