Afipe estava em busca de ouro e granito, apontam registros de agência; Pesquisas minerais foram feitas em Niquelândia-GO
Nos últimos
5 anos, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), presidida até o dia 21 de
agosto pelo padre Robson de Oliveira Pereira, entrou direta ou indiretamente
com pelo menos 12 requerimentos para pesquisa mineral em áreas onde se visava
encontrar ouro, níquel e rochas ornamentais em Niquelândia, Campestre de Goiás
e Trindade.
A associação
também adquiriu neste período o direito para extrair granito em uma área em
Iporá.
Conforme
consta no site da Agência Nacional de Mineração (ANM), dos requerimentos
feitos, apenas um se converteu em licenciamento para exploração, mas não
significa que nas outras áreas nada foi encontrado. O custo de uma pesquisa
mineral, sendo ou não bem sucedida, varia muito conforme o tipo de minério
pesquisado e as dificuldades encontradas, mas técnicos ouvidos pela reportagem
falam de mais de R$ 1 milhão gastos com estes requerimentos, principalmente em
Niquelândia.
Pessoas
envolvidas nestes processos ouvidas pela reportagem contam que mesmo por
intermédio de funcionários da Afipe o padre acompanhava as negociações e estava
inteirado sobre o andamento das mesmas. Partia dele a decisão de não fazer
parcerias, determinando que todo o processo de exploração de minerais fosse
controlado unicamente pela Afipe. No caso, considerando que existem três
associações criadas pelo padre homônimas, a que estava envolvida na exploração
de ouro e granito é a que tem apenas ele como associado. A Afipe, que tem mais
associados, responde como requerente da pesquisa de pedra-sabão na área onde
hoje está sendo construído o novo Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em
Trindade.
Os primeiros
requerimentos de pesquisa mineral envolvem a procura por ouro e níquel em uma
fazenda da Afipe em Niquelândia e datam de dezembro de 2015 a agosto de 2016.
Foram ao todo nove pedidos de autorização para pesquisa em uma área total de
11,4 mil hectares. Esta é a fase em que se executam trabalhos para avaliar a
existência ou não de jazidas, o tamanho dela e a viabilidade econômica.
Apesar de a
fazenda ser a da associação, quem entrou com os requerimentos foi o advogado
Anderson Reiner Fernandes, funcionário da Afipe que, segundo o MP-GO, pode ter
sido usado como laranja para encobrir as negociações feitas pelo padre Robson.
Durante a Operação Vendilhões foram cumpridos mandados de busca e apreensão em
endereço de Anderson.
Ainda em
relação aos requerimentos de Niquelândia, as autorizações de pesquisa foram
transferidas para a Afipe em janeiro de 2018 e um mês depois foram apresentados
relatórios com resultado negativo para a demanda. Porém, conforme a reportagem
apurou junto a técnicos, não significa necessariamente que nada foi encontrado
nestes locais. Na região onde a fazenda está localizada, há outras pessoas
jurídicas em busca dos mesmos minerais e no site da ANM consta que nestas áreas
da fazenda da Afipe foram feitos novos protocolos em setembro de 2019
envolvendo autorização para pesquisa mineral.
Em um
processo que durou dentro da ANM cerca de um ano e meio e foi concluído em
novembro de 2019, a Afipe comprou o direito de explorar rocha ornamental
(granito entre outros) em uma área de Iporá que já era explorada desde 2013 por
uma mineradora. Nos relatórios em posse do MP-GO que mostram as transferências
feitas pela associação do padre Robson para pessoas físicas e jurídicas que
somam mais de R$ 100 mil, esta mineradora aparece tendo recebido em duas
operações um total de R$ 7 milhões.
Conforme a
reportagem apurou, o padre Robson participou da negociação, mas ela foi tocada
principalmente por um de seus assessores. Na época, seria de conhecimento de
empresários e proprietários de terras os investimentos feitos pelo padre na
compra de fazendas no interior goiano. Em 2016, por exemplo, que, segundo
consta no processo que resultou na Operação Vendilhões, a Afipe teria pago R$
92 milhões em dinheiro e imóveis para aquisição de uma fazenda em Caiapônia.
Pelo menos outras nove fazendas em sete cidades foram compradas pela associação
entre 2017 e 2019, sendo que três já teriam sido vendidas.
Dos 12
requerimentos de pesquisa autorizados, o único que resultou em um pedido de
licenciamento foi em Campestre, para exploração de argila.
Local de
obras da Basílica é alvo de pesquisa de minério
A Associação
dos Filhos do Pai Eterno (Afipe) também obteve autorização para procurar
pedra-sabão no subsolo onde em cima está sendo erguido o novo Santuário
Basílica do Divino Pai Eterno. A autorização é para pesquisa em uma área total
de 36,95 hectares, que abrange metade do local onde está a construção e também
o entorno mais próximo da GO-060, que liga Trindade à Goiânia.
Conforme a
reportagem apurou, aquela região seria rica em pedra-sabão, cascalho e
manganês. Inclusive, em 2011, a Afipe entrou com pedido para conseguir a cessão
parcial de pesquisa por manganês nas proximidades da nova basílica, mas o
intuito não foi bem sucedido. Os dois processos constam atualmente como
inativos no site da Agência Nacional de Mineração (ANM), sendo que a última
movimentação de um deles data de outubro de 2016, com o pagamento de multa. Já
no outro caso, houve o sigilo de informação requerida em agosto de 2019.
Se uma
metade da área onde está sendo construída a nova basílica está sendo explorada
pela Afipe, na outra há uma pendência envolvendo autorização de pesquisa para
outra pessoa não ligada à associação. A reportagem levantou que existiria uma
pendência entre as partes, pois o terreno pertence à Afipe, cujo presidente
recém-afastado estaria então - quando ainda comandava a entidade - estava
interessado em explorar também esta região, mas sem parceria.
Defesa
Procurada
pela reportagem, a defesa do padre Robson informou que o estatuto da Afipe
“permite a atuação no segmento mencionado”, no caso, a mineração. Ela argumenta
que teve apenas nesta semana acesso ao processo em andamento pelo Ministério
Público e que assim que os advogados conseguirem analisar todas as “suposições”
feitas pelos promotores irá prestar as “informações necessárias” “ponto a
ponto”.
“O padre
Robson é o maior interessado na verdade e na transparência. A defesa aguarda e
insiste com o Ministério Público para que ele seja ouvido, o que não aconteceu
nem foi agendado até então”, informou a defesa por meio de nota.
A reportagem
não conseguiu localizar Anderson Reiner Fernandes. A mineradora, o empresário
que foi procurado pela Afipe em relação à pesquisa por manganês e as pessoas
envolvidas nos trabalhos técnicos de exploração de minério pela Afipe não
constam como investigadas, por isso não tiveram os nomes citados na reportagem.
Investigada
repassou R$ 1,3 milhão para homem ligado a mineradoras
Apontada
como funcionária de confiança do padre Robson e suspeita de ser laranja dele em
negociações imobiliária e na área da comunicação, Celestina Celis Bueno
repassou no dia 4 de agosto R$ 1,3 milhão para uma pessoa que, conforme a
reportagem apurou, é ligada à mineração, tendo sido sócio em empresas do setor
no interior goiano. A transferência consta na investigação em andamento pelo
Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) que resultou, até o momento na
Operação Vendilhões, deflagrada no dia 21 de agosto.
A reportagem
teve acesso a um parecer técnico elaborado pelo Centro de Inteligência do MP-GO
a pedido do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no
qual consta que o repasse feito por Celestina ocorreu 20 dias após ela ter
recebido em sua conta bancária R$ 2 milhões da Rede Autonomista de
Radiodifusão, empresa na qual ela entrou como sócia em outubro de 2014 e permaneceu
por 2 anos. A Autonomista é de São Paulo e é conhecida como 89 FM A Rádio Rock.
De acordo
com o centro de inteligência, a transferência para Celestina foi contabilizada
pela rádio como distribuição de lucros. Ela voltou a receber a mesma quantia no
dia 10 de setembro daquele ano. Os promotores que investigam o caso,
entretanto, acreditam que ela seria apenas uma laranja na operação, uma vez que
no dia 18 de abril ela repassou R$ 2,7 milhões para a Rede Demais Comunicação,
empresa com rádios ligadas à Afipe da qual ela também chegou a ser sócia por um
período.
A reportagem
procurou a pessoa que recebeu R$ 1,3 milhão de Celestina, mas ela não quis
falar. A ex-sócia das rádios não foi localizada. Questionada, a defesa do padre
Robson não se pronunciou especificamente sobre o tema.
Fonte: O Popular
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