Trinta e
quatro moradores de Cavalcante, a 500 quilômetros de Goiânia, na região
Nordeste do Estado, acabam de ganhar uma nova perspectiva de vida. Eles
concluíram, no início de agosto, cursos de avicultura (criação de galinhas) e
olericultura (cultivo de hortas) do programa Goiás Social. Com capacitação e
certificação, podem agora melhorar a alimentação das próprias famílias e obter
renda extra com a venda de produtos.
Em apenas
dois meses de trabalho, o Goiás Social já contabiliza 230 pessoas capacitadas
para exercer atividades agropecuárias em oito municípios goianos. Todos os
beneficiários pertencem a famílias de baixa renda. Cavalcante marca a
trajetória do programa, porque inclui pela primeira vez moradores da zona rural
– neste caso, quilombolas Kalunga, descendentes de negros escravizados que se
refugiaram na região do Vão do Moleque.
“É muito
gratificante fazer parte de um esforço como esse, porque realmente faz a
diferença na vida das pessoas mais carentes”, destaca o secretário de Estado de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tiago Mendonça. “Muitas vezes a pessoa
tem vontade, quer trabalhar, crescer e dar uma condição melhor de vida para a
sua família, mas não sabe como fazer isso ou não tem o recurso necessário para
começar, e é aqui que o governo e os parceiros entram e estendem a mão”,
comenta.
O
programa
Lançado em
junho de 2021, o programa Goiás Social é coordenado pelo Gabinete de Políticas
Sociais (GPS), em parceria com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG),
secretarias estaduais e municipais, prefeituras e entidades. O objetivo é
auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade social com reforma de
moradias, cursos de alfabetização e oficinas de capacitação profissional, entre
outras ações.
A
coordenadora do GPS e presidente de honra da OVG, primeira-dama Gracinha
Caiado, ressalta que o incentivo à produção da agricultura familiar é uma das
iniciativas do Goiás Social, que promove um conjunto de ações com o objetivo de
promover uma superação da pobreza de forma sustentável. “Temos os cursos da
Seapa, mas também os de qualificação profissional da secretaria da Retomada,
temos o projeto de alfabetização de adultos, transferência de renda por meio do
Mães de Goiás e ainda a reforma de casas, tudo isso para termos um impacto real
na vida dessas famílias em vulnerabilidade”, acrescenta.
Uma vez
capacitados, os alunos podem receber ajuda financeira para adquirir insumos e
colocar em prática o que aprenderam nos cursos. A liberação do Crédito Social
depende da comprovação de situação de vulnerabilidade e da demonstração de
aptidão e estrutura mínima para a atividade (se necessária). Há limitação de um
benefício por família.
A Secretaria
de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) integra o esforço de
capacitação das famílias, ao lado do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Senar Goiás). Superintendente da entidade, Dirceu Borges conta que, para estes
treinamentos, as equipes implantam unidades demonstrativas de avicultura e
olericultura, possibilitando a transmissão do conhecimento através de
estruturas modelos de galinheiro e canteiro de hortaliças. “Capacitamos as
pessoas e transformamos a realidade da comunidade por meio do aprendizado na
prática”, resume.
A Agência
Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater)
também participa da iniciativa, prestando assistência técnica aos
beneficiários. “A Emater é uma das instituições que compõem o Gabinete de
Políticas Sociais e nós fomos imbuídos dessa tarefa de levar ações de apoio às
famílias em situação de vulnerabilidade social que são domiciliadas na zona
rural”, explica o presidente da Agência, Pedro Leonardo Rezende. Ele menciona
que, além de capacitação, a Emater leva outros serviços que podem incrementar a
renda das famílias, como o microcrédito assistido – um trabalho de orientação
para aquisição de crédito.
Resultados
“Este é um
trabalho a muitas mãos que começou há pouco mais de dois meses e já está dando
resultados. Em Americano do Brasil tem gente que fez o curso e está
comercializando hortifruti e aves”, exemplifica o superintendente de Produção
Rural Sustentável da Seapa, Donalvam Maia. “O objetivo principal é matar a
fome, mas se a pessoa consegue dar esse passo à frente ela abre uma nova
perspectiva de vida”, acrescenta ele.
Americano do
Brasil foi o primeiro município a receber cursos da parceria Seapa e Senar no
âmbito do Goiás Social. Edéia, Nova América, Morro Agudo, Monte Alegre e
Cavalcante também já sediaram as oficinas, que duram três dias. Ao todo, 16
turmas foram capacitadas até agora: nove em olericultura, seis em avicultura e
uma em piscicultura.
O trabalho
está só começando. Esta semana os instrutores chegaram a Amaralina e Matrinchã.
Alvorada do Norte e Simolândia também vão receber as equipes nos próximos dias.
E mais 13 novos municípios devem entrar na rota em breve.
Em geral,
cada turma é formada por 10 a 16 participantes. A idade mínima é de 18 anos.
Não há requisito de escolaridade. A triagem dos nomes começa com as Prefeituras
e passa pelo crivo do Gabinete de Políticas Sociais. A Seapa visita os
interessados para confirmar o interesse e a disponibilidade de datas. Em
seguida, combina com o Senar Goiás o envio dos instrutores.
Para receber
o Crédito Social, há uma nova etapa de checagem com a Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social (Seds). Só então os nomes são enviados à GoiásFomento
para repasse dos recursos por meio do cartão Goiás Social.
Interesse
A maioria
dos participantes já tem alguma prática com a terra e os animais. Mesmo assim,
a receptividade e o interesse em participar das oficinas surpreendem. “Em
Cavalcante, chegamos no primeiro dia do curso de olericultura e percebemos que
havia o dobro do número de alunos confirmados”, relata o assessor técnico da
Seapa, Leonardo Carvalho. Na ocasião, a equipe conseguiu um segundo instrutor e
aplicou a capacitação simultaneamente para duas turmas.
Além das
mais de 80 pessoas capacitadas desde julho em Cavalcante, a equipe da Seapa já
tem mais de 200 nomes confirmados para novas turmas apenas na localidade. No
fim de agosto, os destinos serão as regiões do Vão de Almas e do Engenho II.
Segundo o
levantamento inicial de demanda feito pelo Gabinete de Políticas Sociais, os
cursos de olericultura, avicultura e piscicultura devem beneficiar mais de 850
pessoas nos municípios selecionados com base no Índice Multidimensional de
Carência das Famílias Goianas (IMCF). O indicador leva em consideração dados
como renda, educação e moradia colhidos no Cadastro Único para Programas
Sociais do Governo Federal (CadÚnico). O cálculo do ICMF é realizado pelo
Instituto Mauro Borges (IMB).
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