O Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado inicialmente com 625.000 hectares,
ainda na década de 1960, não passa hoje de uma pequena amostra do que foi. Ao
longo dos anos, o parque perdeu área e hoje chega a meros 10% de seu original,
com 65.000 hectares. Para aumentar a confusão, em 2001 o parque foi novamente
ampliado, dessa vez para 235.000 hectares e entrou para a nobre lista dos
Sítios do Patrimônio Natural da Humanidade, da Unesco.
Porém, o
decreto de ampliação foi suspenso em 2003, fazendo o parque retornar à área
mínima de 65.000 hectares.
Face a esse
cenário degradante e à indiscutível importância do parque para a conservação da
biodiversidade do Cerrado, em 2014 a unidade de conservação estava a dois
passos de entrar na lista de parques ameaçados, também da Unesco, tornando-se
apta a perder o título de Patrimônio Mundial e fazendo o Brasil passar uma
vergonha internacional sem precedentes. Para minimizar essa mácula, o então
governo Dilma Rousseff se comprometeu a ampliar a área do parque, a única forma
coerente de garantir a proteção integral da região em longo prazo.
Estudos
técnicos e científicos foram elaborados com rigor, consultas públicas foram
realizadas dando à sociedade a oportunidade de debater o tema e, depois de
meses de negociação, o árduo caminho de proteger a natureza parecia caminhar
para um consenso. Se não agradava 100% a gregos e troianos, pelo menos indicava
uma luz no fim do túnel, com a proposta de ampliação do Parque Nacional para
242.000 hectares.
A área
ampliada incluiria nascentes – absolutamente essenciais às atividades econômicas
realizadas no Brasil Central, em que cada vez mais terras agricultáveis são
cultivadas e a caixa-d’água representada pelo Cerrado se faz mais e mais
necessária – remanescentes de vegetação nativas e populações da fauna ameaçada.
A ampliação
também deve contribuir significativamente para a economia regional, uma vez que
o turismo de natureza que já é uma força motriz da região deverá ganhar ainda
mais relevância com novos pontos de visitação. Nos anos 1990, quando o parque
recebia 12 mil visitantes por ano, o turismo associado àquela área protegida já
movimentava R$ 7 milhões anuais na região. Em 2015, Veadeiros recebeu quase 57
mil visitantes.
Tudo corria
bem e o próprio governador do estado de Goiás, Marconi Perillo (PSDB),
encaminhou ofício ao Ministério do Meio Ambiente apoiando a ampliação do Parque
Nacional. O problema é que, enquanto encaminhava documento e se colocava
publicamente a favor da ampliação, o secretário de Meio Ambiente do estado de
Goiás, Vilmar Rocha, se apresentava também no MMA, junto com lideranças
ruralistas locais para pedir a prorrogação em 60 dias para o decreto de
ampliação. A medida está na Casa Civil, pronta para ser assinada por Michel
Temer.
O motivo
levado ao MMA seria ganhar tempo para resolver “problemas fundiários”, já que,
de acordo com a própria Secretaria de Meio Ambiente de Goiás, seriam cerca de
50 proprietários da região que reivindicam a legalização de suas terras, por
meio de ação cartorial que facilitaria aos posseiros receber indenização por
parte da União.
Na prática,
políticos da região, movidos por interesses particulares, têm se mobilizado
fortemente junto a entidades ruralistas de atuação federal para postergar cada
vez mais a ampliação do parque e assim ganhar tempo, não para regularização
fundiária, mas para enfraquecer cada vez mais o processo a ponto de incubá-lo
novamente. Chama a atenção, por exemplo, que o próprio ofício do governador
tenha passado de “mão em mão” via redes sociais do Sindicato Rural e, dias
depois de anunciado o apoio por parte do governador, o próprio secretário
estivesse tentando ganhar tempo no MMA.
Comentários
Postar um comentário