Gabriela foi
morar em um abrigo aos dois anos, após denúncia de que sua mãe, uma artesã sem
endereço fixo, usava drogas. Com esta idade, foi viver com tios e, desde então,
está com o casal, a quem chama de pais.
Nesta
quarta-feira (9), a adoção foi oficializada, após audiência promovida durante o
programa Justiça Ativa, realizado em Alto Paraíso.
O processo
foi instruído pela juíza Raquel Rocha Lemos, titular da comarca de Ivolândia,
designada, especialmente, para atuar no evento. As partes foram ouvidas e
informadas sobre a importância da decisão: nos documentos de Gabriela, agora poderiam
constar os nomes dos tios em vez dos pais biológicos.
“Na minha
vida, acredito que não vai mudar nada: eu já vivo com meus pais afetivos e os
amo como se fossem biológicos”, diz a menina de 12 anos, que mora em São João
da Aliança, cidade que integra a comarca.
O contato
com Rita, a mãe biológica, é pouco, uma vez que a artesã mora no interior de
São Paulo. “Nos falamos por telefone às vezes. Gosto dela, sinto carinho. Mas
quero continuar morando aqui”, faz questão de frisar a jovem.
Mãe de cinco
filhos, a vida da vendedora de artesanato foi bastante conturbada. “Gabriela
foi minha quarta gestalção – todas frutos de relacionamentos instáveis e
passageiros, minha família já não aceitava mais. Eu usava muitas drogas e bebia
muito. Não tinha estabilidade emocional para cuidar de um bebê naquela época”,
conta.
Ao
engravidar de Gabriela, Rita lembra que não teve apoio do então namorado, o pai
da criança, que “caiu no mundo logo após registrar a neném”. “Fui, então,
definhando, o Conselho Tutelar veio e tomou a minha filha de mim”, lembra.
Rita relata
que foi usuária de crack e merla e está sem usar entorpecentes há cinco meses.
Com dificuldade para lembrar datas e anos, a artesã conta que dos cinco filhos,
apenas uma, de 22 anos, mora com ela hoje. Os demais, com idade entre oito e
trinta anos, moram sozinhos ou com outros membros da família.
Perguntada
sobre a adoção de Gabriela, a artesã responde em tom melancólico, porém direto:
“Como vou ser mãe nessa altura do campeonato? Não posso. Ainda me sinto
vulnerável. Tenho uma filha de oito anos que queria muito, pelo menos, manter
contato, mas que está morando com a avó paterna. Gabriela é muito carinhosa. Os
pais dela cuidam bem, ela está bem”.
Pais adotivos
Chamado para
depor, João, pai afetivo, tentou colocar em palavras o carinho que sente pela
menina. “É o mesmo sentimento que tenho pelos meus outros dois filhos. Guardo
todas as cartinhas e os desenhos que ela fez para mim na escola. Os papéis em
que ela escreveu 'te amo, papai'”, conta.
A mãe
afetiva, Carmem, também prestou depoimento no mesmo sentido. “Desde o
nascimento de Gabriela a gente se preocupou com a saúde e o bem-estar dela.
Quando eu a via com a Rita, percebia que ela não estava com roupas limpas ou de
banho tomado. Por isso, sempre nos colocamos à disposição para todos os
cuidados e fazemos isso com todo o amor. Ela me chama de mãe e eu chamo de
filha”.
Gabriela, ao
fim da audiência, diz feliz sobre o resultado: “Somos uma família normal,
feliz. Tem vezes que saímos para lanchar, para passear. Meu sentimento é forte,
quero morar com eles para sempre”.
Os nomes
foram substituídos para preservar a identidade das partes.
Fonte: TJGO
Comentários
Postar um comentário